Artur Carlos de Barros Basto

Description level
Fonds Fonds
Reference code
PT/CPF/ABB
Title type
Atribuído
Date range
1897-01-01 Date is uncertain to 1959-12-06 Date is uncertain
Dimension and support
Dimensão: c. de 710 documentos (fotografias, documentos pessoais e alguns objetos); Suporte: digital e papel. Polaridade: negativos e positivos. Cor: p/b.
Biography or history
Artur Carlos de Barros Basto, com o nome hebraico na comunidade judaica como Abraham Israel Ben-Rosh, nasceu na freguesia de Madalena, em Amarante a 18 de dezembro de 1887 e faleceu na cidade do Porto, a 08 de março de 1961.

Pela separação dos pais, em 1893, foi educado pela mãe, tendo contudo mantido contato muito próximo que com o avô paterno Francisco Carlos de Barros Basto que o influenciou, e com o pai com passava as férias em Amarante. O seu avô deu-lhe a conhecer a ascendência judaica da família e ensinou-lhe a doutrina hebraica.

Militar de carreira condecorado com diversas medalhas, nomeadamente a Cruz de Guerra. Começou a sua carreira em 1906 ao alistar-se voluntariamente no Regimento de Artilharia nº 4, em Amarante, tendo, de seguida começado a frequentar a Escola Politécnica de Lisboa para ingressar na Escola Militar. Em 1909, matricula-se na Escola do Exército, no curso geral de Cavalaria e Infantaria. Em 1912, já no Regimento de Infantaria nº 18, no Porto, é promovido a alferes e a tentente em 1916.

Em Lisboa, para onde foi com 19 anos (em 1906), cumprir o serviço militar tenta começa a frequentar a sinagoga de Lisboa, onde não é aceite. Na cidade do Porto, onde morava participa nos movimentos políticos republicanos fazendo parte da Revolução republicana de 5 de outubro de 1910, tendo sido aquele que hasteou a bandeira republicana.

Em Fevereiro de 1917 parte para a Flandres, como tenente do exército, onde vai combater na 1ª Guerra Mundial e comandou com bravura um batalhão do Corpo Expedicionário Português, motivo pelo qual é condecorado e promovido a capitão e recebe várias condecorações, destacando-se a Ordem Militar de Avis, o grau de oficial da ordem de Cristo, a Medalha da Vitória, a Medalha Militar de prata da classe de bons serviços com palama e a 4ª Classe da Cruz de Guerra.

As vivências deste período da vida do capitão Barros Basto foram por ele registadas em diários escritos e em fotografias.

Durante a sua permanência em França contatou com a comunidade judia francesa ficando cada vez mais inclinado a praticar a religião dos seus antepassados que o levou a decidir por esta religião. Assim, em 1920 viaja para Tânger, sujeita-se a um exame perante um Tribunal rabínico (BEIT DIN) onde é admitido no seio da comunidade judaica e é submetido à circuncisão e recebe o nome hebraico de Abraão Israel Bem-Rosh. De regresso a Lisboa, apresentou-se na sinagoga como judeu orgulhoso do seu certificado, ali casou com uma judia, e voltou com ela para o Porto.

Em 1921, casa com Lea Montero Azancot, descendente de uma família judaica da Comunidade Israelita de Lisboa.

Em 1922, é nomeado diretor da prisão militar do Porto. Nesta cidade, funda a Comunidade Israelita do Porto, em 1923, com cerca de 20 comerciantes judeus da Europa central e de leste, trabalhando no sentido de localizar nesta cidade o centro da comunidade nortenha, com a construção de uma sinagoga.

Depois de, em 1925, tomar conhecimento da existência de marranos no norte e nas beiras de Portugal, pede ajuda internacional e inicia a “obra do resgate”. Ajuda a organizar as várias comunidades judaicas no norte de Portugal (ex: Bragança, Vila Real, Guarda, Covilhã, Pinhel, Belmonte, etc.).

A 16 de janeiro de 1938 é inaugurada no Porto a sinagoga Kaddorie Mekor Haim. Todo o processo de construção da sinagoga foi por ele registado em fotografia.

Nos anos 30, com a mudança de regime começou a ser conotado com a oposição, e a sua dedicação e empenho a favor do judaísmo fazem surgir no exército protestos e a reações anti-semitas, acusando-o de ser homossexual por presidir à circuncisão de jovens judeus.

Em 1934, é aberto um processo contra Barros Basto, na Polícia de Segurança Pública. O processo é arquivado no mesmo ano. Em 1936 é aberto um novo processo, desta feita no Tribunal Militar. O processo bifurca-se, com uma componente penal e uma componente disciplinar. A componente penal, decidida em 1937, na qual os fastos imputados a Barros Basto são declarados “não provados por unanimidade”. A componente disciplinar, decidida também 1937, pelo Conselho Superior de Disciplina do Exército, Barros Basto é condenado a uma pena de “Separação do Serviço” Por ter ficado provado que interviera nas operações de circuncisão dos seus alunos.

Ainda, em 1936, Barros Basto é novamente acusado e levado a tribunal. Contudo, e apesar de não ser dadas por provadas as acusações no tribunal civil, o Exército move-lhe um processo no Tribunal Militar, acusando-o de práticas homossexuais, aquando da sua passagem pelo Quartel de Bragança. As acusações não são dadas como provados mas, em 1937, o Conselho Superior de Disciplina do Exército decidiu pela "separação do serviço" do capitão Arthur Carlos Barros Basto por considerar que não possuía "capacidade moral para prestígio da sua função e decoro da sua farda".

Durante a Segunda Guerra Mundial, o capitão Barros Basto e a Comunidade Isrealita do Porto, a que ele presidia, prestaram ajuda aos refugiados judeus que escaparam à guerra e ao Holocausto. É conhecido no mundo judaico como o “Apóstolo dos refugiados” (nome que lhe foi dado por Cecil Roth) e como o “Dreyfus português”.

Foi ainda membro de instituições como o Ateneu Comercial do Porto e Loja da Maçonaria do Porto.

Morre em 1961, e foi enterrado no cemitério de Amarante, cidade onde nasceu, conforme o seu desejo, envergando a farda com a qual sempre serviu a sua pátria. No leito de morte exclamou que um dia lhe seria feita justiça.

Em 1975, no pós 25 de abril, apesar de ter sido determinada a reintegração dos servidores do Estado, militares ou civis, que tivessem sido afastados por motivos políticos, a viúva de Barros Bastos vê recusado o requerimento de integração do antigo militar, com a justificação de que as acusações de homossexualidade se mantinham, motivo pelo qual, na altura, eram ainda motivo para banir um militar das Forças Armadas.

A 29 de dezembro de 2012, e após voto favorável da Assembleia da República ao ”Pedido de reintegração no Exército do capitão de Infantaria Artur Carlos Barros Basto, que foi alvo de segregação político-religiosa no ano de 1937, pelo fato de ser judeu” a comissão de Defesa Nacional reintegrou postumamente no exército o capitão Barros Bastos.

Na sequência deste processo, a 29 de fevereiro de 2012, por unanimidade, também, a 1ª Comissão da Assembleia da República, num extenso documento, operou a reabilitação do Capitão Barros Basto, considerando que ele “foi separado do exército devido a um clima genérico de animosidade contra si motivado pelo facto de ser judeu, de não o encobrir, e, pelo contrário, de ostentar um proselitismo enérgico convertendo judeus portugueses marranos e seus descendentes.”

Por sua vez, a Resolução da Assembleia da República n.º 119/2012, de 10-08, recomendou ao governo que procedesse a uma reintegração simbólica de Barros Basto no Exército, a título póstumo, «em categoria nunca inferior àquela a que o militar em causa teria direito se sobre o mesmo não tivesse sido instaurado o processo que levou ao seu afastamento.»
Functions, ocupations and activities
Militar de carreira, professor, estudioso de História e Religião e comerciante.
Internal structure/genealogy
Artur Carlos de Barros Basto é o segundo filho de José Carlos de Barros Basto (1849-1912), comerciante amarantino e Maria Ernestina Bessa Fortes (1859-1920), professora de música (piano). A sua irmã Maria Branca, nascida em 1886, faleceu em 1889 de garrotilho.

O seu avô, Francisco Carlos de Barros Basto (1814-1897), contador oficial, era filho de João Carlos (ou João Ignais) de Barros Bastos e Sarah de Carvalho, cristãos-novos de ascendência portuguesa mas naturais de Bordéus. Francisco Carlos casou com Carlota Joaquina Gonçalves (?-1887), cristã-velha. Do casamento nasceram onze filhos, dos quais cinco morreram ainda crianças e três foram vítimas de tuberculose ainda jovens. Dois partiram, em 1856, para o Brasil, António Carlos e Henrique Carlos. António tinha 13 anos incompletos e Henrique tinha 14, também incompletos.

A 9 de março de 1921, casa com Lea Montero Azancot, filha de Jacob Levy Azancot, família judaica da Comunidade Israelita de Lisboa.

Em 1922 e 1923 nasceram os filhos Nuno e Miriam.
Custodial history
O CPF chegou ao conhecimento deste arquivo por indicação do Exmo. Sr. Conde Falcão, coronel de cavalaria, reformado. Logo no primeiro contato a Drª Isabel Lopes revelou interesse em partilhar da informação que o espólio tinha de seu avô, o qual foi transmitido por herança.
Acquisition information
Documentação adquirida por doação de Isabel Maria de Barros Teixeira da Silva Ferreira Lopes, neta do autor, em dezembro de 2013, das reproduções dos documentos, em formato digital.
Scope and content
Este conjunto é o arquivo fotográfico do autor, que apesar de não ser fotógrafo profissional, foi um amador entusiasta que usou a fotografia como meio para documentar quer a sua atividade profissional - militar de carreira -, nomeadamente a sua passagem pelos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial, onde combateu com bravura, quer os projetos em que se envolveu e que concretizou, como é o caso da Comunidade Israelita do Porto (há 400 anos que não existia uma comunidade judaica organizada na cidade) da construção da sinagoga do Porto e o apoio à comunidade judaica portuguesa e aos refugiados judeus da Segunda Guerra Mundial.

Existe também alguma documentação gráfica, mapas dos campos de batalha, cadernos com : “autos de averiguações” do Batalhão do Regimento de Infantaria, notas sobre a conservação e limpeza de material de guerra, notas pessoais, tipo diário, sobre os dias passados na guerra, desde o embarque, cópia de proposta de louvor elaboradas pelo comandante do Batalhão, Barros Basto, em campanha, datados de 1919, cópias de registos de ordens de serviço do 1º Batalhão do Regimento de Infantaria nº 23, datados de 1916, cartões de identificação como é o caso do de “Aluno da Escola do Exército”, de 1911, condecorações e objetos pessoais como o capacete usado na guerra, a máquina fotográfica.

Tem várias fotografias do autor, da sua família e de amigos, como é o caso do Ramalho Ortigão que com ele combateu na 1ª Guerra Mundial. Há um caderno de fotografias em formato postal da autoria do repórter de guerra Arnaldo Garcez, publicadas pelo CEP (Corpo Expedicionário Português) e um conjunto de postais da Exposição Colonial Portuguesa.
Arrangement
Os documentos encontravam-se reunidos fisicamente em caixas (ui), descritos a nível de conteúdo e ordenados cronologicamente (salvo pontuais exepções foi sempre mantida a ordem original de produção ou acumulação, ou de arquivagem, tal como foram recebidos da doadora).
Access restrictions
Documentação parcialmente acessível em cópia digital (parte do fundo ainda em fase de tratamento).
Conditions governing use
A reprodução de documentos encontra-se sujeita a algumas restrições tendo em conta o tipo dos documentos, o fim a que se destina a reprodução, às normas que regulam os direitos de propriedade e à legislação sobre os direitos de autor. A reprodução para terceiros apenas é autorizada para fins culturais e científicos de qualidade reconhecida e, em caso de dúvida por parte do CPF/DGLAB os pedidos serão submetidos à consideração da Segunda Outorgante ou seus sucessores. A reprodução para terceiros, para fins comerciais, terão de submetidos à consideração da Segunda Outorgante ou seus sucessores.
Language of the material
Português (pt)
Other finding aid
Inventário.
Creation date
08/08/2014 13:21:14
Last modification
26/09/2022 15:06:56
Record not reviewed.